Na última semana, membros da IEAB fizeram parte da Missão Ecumênica em favor dos direitos dos povos indígenas. Veja o álbum de fotos, click AQUI.
A Igreja
Episcopal Anglicana do Brasil – IEAB, fez parte pelo segundo ano
consecutivo da “Missão Ecumênica” em parceria com a CESE – Coordenadoria
Ecumênica de Serviço, CIMI – Conselho Indigenista Missionário, CEBI –
Centro de Estudos Bíblicos e CONIC – Conselho Nacional de Igrejas
Cristãs no Brasil. No ano passado, a exploração de terras de forma
ilegal feita por madeireiros, latifundiários e grandes fazendeiros
evidenciou a nível nacional um problema há muito tempo recorrente na
região do Mato Grosso do Sul/MS sobretudo no assunto da demarcação das
terras indígenas de diversas tribos, entre elas os Guarani-Kaiowá e os
Terena, que mais foram afetados por uma forte onda de violência,
desencadeando genocídio e a expulsão de centenas de pessoas das suas
moradias.
Antecedentes
De acordo
com informações do CIMI, nos últimos doze anos, mais de 500 índios
cometeram suicídio e outros 390 foram assassinados de forma brutal nas
investidas de retirar as famílias das áreas de interesse para o
agronegócio, que inicialmente pertenceram aos indígenas. Os órgãos
ecumênicos e apoiadores da causa dos Guarani-Kaiowá salientaram na
primeira vez em que a missão se reuniu, o interesse por uma CPI do
Genocídio na intenção da investigação concreta desses abusos.
No dia 14 de
junho, próximo da aldeia dos Guarani-Kaiowá no município de Caarapó, o
agente de saúde indígena Clodiodi Aquileu Rodrigues de Souza, de vinte e
três anos, foi morto a tiros, seis outros índios foram encaminhados com
ferimentos graves também por armas de fogo para um hospital em
Dourados/MS. Conforme comentado pelos moradores da área da fazenda Yvu,
homens em caminhonetes, tratores e motos, estavam atirando para todos os
lados.
Muitos dos
indígenas ficaram juntos, mas uma grande parte se dispersou pelas
regiões próximas para se proteger, o que está gerando conflito com os
proprietários de terras. Clodiodi foi enterrado no mesmo local e agora é
um símbolo da luta pela retomada das terras.
Dias 14 e 15 de Julho, retorno da missão: “N’handeru mandou dizer que vai ter resistência!”
A IEAB
compareceu num ato público em frente à Assembleia Legislativa do Estado
do Mato Grosso do Sul, juntamente com os órgãos ecumênicos, para
expressar seu apoio com a causa indígena, pedir que não haja mais
assassinatos e conflitos com o povo da retomada de terras, que a cultura
e a crença deles não sejam alvos de ameaçadas pelo poderio do
agronegócio. Estiveram presentes Dom Flávio Irala, Bispo Diocesano de
São Paulo e Presidente do CONIC, Dom Naudal Alves Gomes, Bispo Diocesano
de Curitiba e Presidente da Comissão Nacional de Incidência Pública da
IEAB, as missionárias da TEC que fazem parte do GT de Missão da IEAB,
Monica Vega e Heidi Schmidt, Vagner Mendes, membro do staff da
Secretaria Geral da IEAB, Rev. Hugo Sanchez, responsável pela Missão da
Inclusão em Campo Grande/MS juntamente com os paroquianos Emanuel,
Lúcia, Cleide e Maria Helena, houve um momento muito forte, onde as
tribos se cumprimentaram e dançaram juntas, os líderes religiosos foram
acolhidos e puderam manifestar palavras de apoio aos índios e repúdio
aos últimos acontecimentos, dançaram em conjunto, puderam conceder a
bênção de acordo com a sua fé e depois um sacerdote indígena também
abençoou os líderes ecumênicos, conforme sua tradição – N’handeru
carrega o arquétipo de Criador – assim como o Deus revelado que
conhecemos no cristianismo, ficou claro que todos somos um.
Encontro no Ministério Público Federal
Depois do
Ato Público em favor dos direitos dos povos indígenas, os membros da
missão ecumênica compareceram no MPF de Mato Grosso do Sul, ainda no dia
14 para uma conversa com o Procurador Geral do Estado e ouvir as
medidas efetivas que foram tomadas desde o último momento de conversa no
ano anterior. Foi aberto um espaço para que as lideranças indígenas
também fizessem colocações, infelizmente pouco foi conquistado para a
melhoria da situação dos Guarani-Kaiowá, a demarcação das terras
indígenas ainda é tratada com dificuldade.
Os líderes
das tribos agradeceram o auxílio prestado pelo Estado, mas que ainda não
foi o suficiente para reaver as terras e ter a certeza de segurança
ante os ataques de jagunços e fazendeiros. As igrejas e tradições
religiosas afirmaram que vão continuar acompanhando o que estará sendo
feito nos próximos meses até que os índios tenham alguma resposta em seu
favor.
Após o
término da sessão, a caravana prosseguiu viagem para Dourados, onde
houve já na parte da noite, um jantar cedido pela Paróquia Santo André
da Igreja Católica, lá três índios guaranis pediram para as missionárias
de nossa igreja: “Não se esqueçam de nós”.
Visita a Caarapó
Onde fica a
fazenda Yvu, há mais de 270km de Campo Grande/MS e se encontra a aldeia
dos Guarani-Kaiowá, a IEAB foi representada por nove membros, sendo dois
bispos, um presbítero e os demais que são paroquianos da Missão da
Inclusão, localizada na capital do Estado. Aconteceu um momento muito
forte onde a tribo pode trocar experiências, pedir por auxílio e mostrar
sua realidade para os visitantes.
A cerimônia
foi aberta pelo Cacique, com palavras de acolhimento afirmando seu
agradecimento pela preocupação das igrejas e de todos os apoiadores da
causa indígena, para que ajudem a acabar com o sofrimento de todos os
que estão sendo afetados por causa do interesse dos poderosos. Com
pausas para orações, colocações de lideranças da tribo e dos visitantes,
o clima de gratidão e apoio deixou registrado que a luta dos indígenas é
de todos nós, o momento terminou com um almoço comunitário e despedida
no local aonde Clodiodi está sepultado, a caravana ecumênica fez preces
juntas e os sacerdotes indígenas presidiram uma pequena cerimônia de
memorial que comoveu todos os presentes.
Visita ao Apka’i: o poder da ancestralidade
A cacique
Damiana continua sendo a líder de uma pequena comunidade às margens da
rodovia, um trator havia passado por cima das casas e matou homens,
mulheres e crianças. Inconformada ela mostrou por meio de suas feições
faciais a dor de perder familiares e amigos e reclamou sobre não poder
ter enterrado os corpos das vítimas.
Como foram
expulsos de onde estavam se alojaram entre o pouco que sobrou no
acostamento da rodovia, entre Caarapó e Dourados. Num clima de
solidariedade, as lideranças ouviram os apelos da representante daquela
comunidade e fizeram um momento de partilha com abraços e receberam os
cumprimentos dos demais moradores do pequeno agrupamento.
A IEAB permanece na luta pelos Guaranis-Kaiowá
A Igreja
sabe que a luta não terminou, que muito sangue foi derramado e o povo
indígena assolado pelo desejo de poderosos da região que querem lucrar
com as terras, está destruindo centenas de pessoas todos os dias. Faz
parte da pauta da IEAB divulgar esses acontecimentos no Brasil e fora
dele, na intenção de evidenciar o sofrimento dessas pessoas que também
são brasileiras e humanas e de lutar pelos devidos direitos que a eles
estão sendo negados, certamente outros membros acompanharão no futuro as
próximas missões, para que jamais essa luz se apague.