terça-feira, 15 de novembro de 2022

Um filho de Altos-PI entre os Alencares: In memorian de João Pereira de Alencar

Foto de 1947: João Pereira de Alencar com a esposa, Antonia Bezerra de Araújo e a filha de 4 meses de idade, Francisca Araújo Alencar

 

 

Por Luis Magno Alencar

Introdução

Uma das famílias de maior destaque no Nordeste, é sem sombras de dúvidas a Família Alencar. O legado afamado por grandes expoentes desta família na história nacional ou a luta honrosa de seus anônimos nos sertões nordestino, criaram uma satisfação de pertencimento a gleba familiar alencarina e por isso mesmo, muitos dos seus descendentes passaram adiante as suas memórias familiares.

E foi para lançar luzes sobre a trajetória de um destes anônimos da Família Alencar, é que o artigo 'Um filho de Altos-PI entre os Alencares', se propõe a fazer o leitor refletir sobre o assunto, dentro de uma perspectiva histórica e genealógica, mesmo que este trabalho se objetive ao consumo do núcleo da família em Santa Luzia do Paruá ou qualquer lugar onde se encontrem as sementes espalhadas por Joaquim, Barnabé, Gualter, João Pereira de Alencar e de outros ancestrais ainda não descobertos que viveram antes destes. 

O mesmo levanta questionamentos intrínsecos a cada membro da família e busca responder, entre outras perguntas, quem foi João Pereira de Alencar? Quais caminhos que o levaram a Altos-PI?  Como era a relação de parentesco entre Barnabé-Gualter-João com os Alencares do passado piauiense, cearense e pernambucano. 

Muito embora o trabalho tenha uma particular relevância para os descendentes do "Sr. João" ou de seus irmãos, o mesmo não deixa de ser interessante para os amantes de conteúdos de memórias familiares, especialmente os Alencares e os sobrenomes a eles relacionados.

Quem eram os Alencares que chegaram em Altos-PI?

O núcleo alencarino de João Pereira de Alencar, situou-se, antes do seu nascimento, por várias décadas do Século XIX, numa região do atual estado do Ceará, que inclui municípios como os de Arneiroz, Independência, Tauá e Crateús; em ambos os locais, foram encontrados documentos microfilmados pelos membros da Igreja dos Mormons, que comprovam a criação de vínculos sociais por parte de seus avós, pais e tios. Uma trilha de papeis vai ficando para trás, a cada avanço que se faz rumo as lentas e trabalhosas ligações entre um e outro ascendente mais distante no passado.

Neste caminho de descobertas feitas à luz das afirmativas repassadas aos descendentes, as averiguações destas fontes, por exemplo, não confirmaram uma relação direta dos alencares de João com a cidade do Crato, que fica no Sul cearense, limitando-se com o berço da Família Alencar no Brasil, através da cidade de Exu-PE. Descobriu-se no entanto, que houve antes da chegada em Altos-PI, uma curva de décadas de desbravamentos com o avanço dos currais desde a saída de Crato ou mesmo de Exu. Agora, porém, a pesquisa deixa as certezas documentadas de que Gualter Pereira de Alencar, pai de João Pereira de Alencar, agricultor e criador de rebanhos, nasceu em Tauá, no dia 29 de janeiro de 1873, de acordo com o termo de batismo encontrado da Igreja de Flores (Matriz da cidade).

O resgate dos sobrenomes "Pereira e Alencar"

A preservação dos nomes dos pais em documentos oficiais, em muitas ocasiões deram origem a sobrenomes que sendo efêmeros ou duradouros, geram identidades únicas em muitos descendentes. No caso dos "Pereira de Alencar", esse fenômeno variou em um ou outro descendente ou que seguiu ou que alterou a tradição para colocar a memória do pai. No caso de João, o resgate fora feito através do pai Gualter. Este tendo sido levado a pia de batismo pelo tio José Damaso de Alencar e sua esposa Vicência Rodrigues de Oliveira, recebeu por homenagem, o mesmo nome de batismo do Barão do Exu, Gualter Pereira de Alencar, pois se tivesse mantido o padrão do pai Barnabé e do avô Joaquim, teria se chamado Gualter Damaso de Alencar. Más, esta mudança não era inédita, pois outra homenagem já havia sido feita na família, na pessoa de Leonel Pereira de Alencar, tornando-se ele homônimo do patriarca da Família Alencar no Brasil, que no porto de Salvador desembarcou por volta de 1680; esta cópia do patriarca Leonel, inclusive, foi tio de Gualter (ou seja irmão de seu pai Barnabé) e seu pai de criação em Altos-PI, devido a fuga da seca de 1877-79, que assolou o Sertão Cearense, trazendo a orfandade e a ruína a familiares de Gualter. Segue o termo de batismo de Gualter:

Como se nota, em Gualter foi interrompida as sequências de antepassados com o sobrenome Dâmaso de Alencar. O pai e a mãe de Gualter, Barnabé e Alexandrina, que não aparecem no evento de batismo (e não se sabe a razão, se foi falecimento ou outro motivo), ora aparecem em documentos com os sobrenomes "Pereira de Alencar", e na maioria como "Damaso de Alencar", mostrando que até havia um uso paralelo dos dois sobrenomes. Neste sentido, chama as atenções um documento datado de 1905, que é o termo de nascimento de Antonio de Paiva Chaves, filho de Vitalina Pereira de Alencar (irmã de Gualter). Nesta lavra oficial, os avós de João aparecem com os nomes de Barnabé Pereira de Alencar e Alexandrina de Pereira de Alencar e não como em documentos mais antigos em que se lê Barnabé Damaso de Alencar e Alexandrina de Holanda Cavalcanti. Embora não continuasse documental, a prática de lembrar dos nomes dos pais nos nomes de filhos, ainda assim continuou na família, pois a saber, João foi chamado por toda a sua vida, pelo vulgo de "João Gualter", em alusão direta ao seu pai. Segue uma petição de Antonio Paiva de Alencar, do ano de 1975, apresentada no cartório de Teresina, em que menciona-se Vitalina (tia de João) e os avós Barnabé e Alexandrina com os sobrenomes “Pereira de Alencar”:

Más, no avanço das descobertas sobre esta extensa corrente biológica dos “Pereira de Alencar”, foi o livro “Vida e Bravura: Origens e genealogia da Família Alencar” uma das fontes esclarecedoras sobre este fenômeno na família. O autor José Roberto de Alencar Moreira observa que a origem do sobrenome Pereira em Joaquim (considerado o único a receber este sobrenome), provavelmente tem origem em seus bisavós maternos. Já a origem refletida no Brasil, pode estar na esposa do patriarca Leonel de Alencar Rego, a baiana Maria da Assunção de Jesus Pereira, ela que era filha João Pereira de Carvalho e Maria Xavier da Silva. O autor defende que o vínculo, talvez alencarino ou pelo fato terem vindos de Portugal na mesma caravela tenha levado a este nível de consideração. Ademais, num dos pontos cruciais para a origem etimológica dos Pereira entre os Alencares no Brasil, são citados, também, os casamentos dos filhos de Joaquim (Leonel, Luís e Inácia) com 3 filhos de João Pereira de Carvalho (Maria Xavier, Ana Xavier e João, respectivamente), gerando aí forte desconfiança de que tais enlaces, posteriormente, até de netos e bisnetos, sejam os motivos para tantas recorrências dos sobrenomes em várias gerações de descendentes de Joaquim. E é de Joaquim Pereira de Alencar, que descendem os mais alvissareiros nomes da Família Alencar, tais como a heroína Bárbara Pereira de Alencar, Tristão Pereira de Alencar Araripe, o escritor José de Alencar, o barão do Exu Gualter de Alencar Araripe, o Barão de Alencar Leonel Martiniano de Alencar e tantos outros renomes. O patriarca Joaquim foi um dos primeiros da família a levar os “Pereira de Alencar” para o Ceará, já que à 3 anos de seu falecimento ocorrido em 1804, veio a residir em Crato.

A família do altoense João Pereira de Alencar sustenta que seus antepassados (talvez, bisavós), saíram do Crato, isso antes de residir em lugares próximos a fronteira com o Piauí. Curioso notar, que um personagem foi notado em livros eclesiásticos, ao qual não se tem certeza se é o antepassado direto que mais tarde provocou as alterações dos sobrenomes “Pereira” para “Damaso” em alguns descendentes; afinal, dizia João que todos os seus antepassados eram "Pereira de Alencar", e, de certa forma ele não estava errado! O nome deste antepassado em suspeita é Damásio Pereira de Alenquer, que é citado como padrinho de batismo em termo de 1801, na cidade de Arneiroz, que fica na fronteira de Tauá. Seria ele o progenitor de Joaquim Damaso de Alencar, o bisavô de João Pereira de Alencar? Se sim, com qual dos filhos do patriarca Leonel este personagem teria relação direta? A genealogia dos primeiros Alencares no Brasil mostra que entre os filhos listados para o patriarca Leonel, um se chamava Damaso de Alencar Rego, mas, não se sabe há relação direta deste nome com as homenagens recorrentes e supracitadas na família. Filhos do patriarca Leonel Pereira de Alencar Rego (Século XVII): 

1 Jerônima Pereira de Alencar

2  Serafim Pereira de Alencar 

           3 Maria José de Alencar 

4 Ana Maria Pereira de Alencar

5 Joaquim Pereira de Alencar 

6 Rita da Exaltação de Alencar Rego

          7 Dámaso de Alencar Rego 

         8 Leonel de Alencar Rego

         9 José Antonio de Alenquer

Outra percepção analisada nos documentos, é que embora João venha de uma vertente não preservadora dos "Damasos", vale deixar claro que outros irmãos dos pais de Gualter mantiveram a tendência, exceto em Leonel e no próprio Gualter. Alguns destes tiveram também alterações para “Sousa de Alencar”, onde se admitiu o sobrenome da mãe Ana Joaquina de Sousa. Veja lista de filhos de Joaquim Damaso de Alencar, bisavô de João:

 1 Barnabé Damazo de Alencar

2 Carolina de Assunção Alencar

3 Ismênia de Sousa Alencar

Leonel Pereira de Alencar

5 Franklin Dâmaso de Alencar

Clarindo Dâmaso de Alencar

Paulina de Sousa Alencar

Ana Joaquina de Sousa 

9 José Dâmaso de Alencar

 

Então, de qual dos filhos do português e patriarca Leonel, descende João Pereira de Alencar?

Casa do patriarca dos Alencares do Brasil, localizada em Exu-PE, hoje Museu Bárbara de Alencar

A resposta a esta pergunta tem sido aguardada por muito tempo pelo autor deste trabalho, e, depois de vasculhar muitas informações, ver-se que o acúmulo delas vem reforçando a hipótese de que o ancestral procurado, pode ser Inácia Pereira de Alencar.

E a principal pista para as apostas nesta que foi a “irmã caçula e afilhada da heroína Bárbara de Alencar” (tal como afirma a escritora Ariadne Araújo, no livro Bárbara de Alencar), consiste nas associações entre os sobrenomes “Pereira” e “Alencar”. (Bárbara de Alencar é a maior personalidade da história da família. Mãe da Independência e Mãe da República, seu nome foi adicionado ao Livro dos Heróis da Pátria, por força da Lei 13.022/2014, que é de autoria de sua descendente, a Deputada Ana Arraes).

Más, recapitulando sobre a desconfiança que persiste das menções do “Pereira de Alencar”, por exemplo, existe no fato de ter havido uma razão a mais para o uso do sobrenome “Pereira” para os descendentes de Inácia, que foi o casamento dela com João Pereira de Carvalho, mesmo sendo este o caso de seus outros dois irmãos, o Leonel e o Luís. Observa-se que entre os descendentes do casal, há uma considerável replicação deste nome “João Pereira”, seja antes do uso sobrenome Carvalho, seja antes uso do sobrenome Alencar, o que é o caso do altoense João Pereira de Alencar.

Reforça-se aí nesta pertinência, que das recorrências de casamentos entre os descendentes de João Pereira de Carvalho e Inácia Pereira de Alencar, argumentas pelo José Roberto de Alencar Moreira no livro “Vida e Bravura: Origens e Genealogia da Família Alencar”, foi a prole deles que mais avançou nas direções Norte cearense e piauiense, que no caso do núcleo de João o alvo escolhido foi o Vale do Parnaíba. Dos nomes citados por José Roberto para as incidências do clã de Joaquim Pereira de Alencar para o espalhamento dos “Pereira de Alencar”, ver-se que os outros dois filhos apontados, o Leonel e o Luis, tiveram uma relevância de avanço mais tímido nestas áreas por parte dos seus filhos e netos. O livro As desventuras de Hipólita, faz referência as posses de terras na região do Crato por parte dos dois irmãos, e acaba reforçando uma permanência maior, possivelmente devido aos excelentes pastos da região. Por conclusão, é curiosa saber de que tenha sido João Pereira de Alencar, o 4º filho com o nome de João, após as mortes dos irmãos recém-nascidos antes de 1909.  E dos irmãos que nasceram após João, uma recebeu o nome de Joana. Difícil de supor se houve uma conexão consciente nesta insistência pelo nome João como homenagem a antepassado, mas é certo que o seu pai Gualter recebeu de seus tios informações sobre a história da família, tentou repassá-las adiante e o nome pode ter sido uma das formas de fazer isso.

Pode ser que a pesquisa de documentos que relacione o último antepassado identificado que se alcançou, comprove a relação de ascendência de João com outro filho de Joaquim Pereira de Alencar e não aquela a que este trabalho sugere por via de argumentos, enquanto não se encontram documentos de comprovação. O último ancestral alcançado, Joaquim Damaso de Alencar, bem como a sua esposa Ana Joaquina de Sousa, por ser o mais longínquo dos “Pereira de Alencar” encontrado, tem fortes chances de encaixar-se nos argumentos que se estreitaram até o nome de Inácia, filha de Joaquim Pereira de Alencar.

As homenagens a antepassados em nomes de descendentes no núcleo da família de João Pereira de Alencar

A identidade dos Alencares, entre os próprios membros da família, é lembrada não só por meio dos sobrenomes Alencar, Alenquer, Araripe, Arraes, Carvalho, Luna, Sucupira, etc.. Com ou sem as alcunhas do nativismo regionalista, também os nomes localizam no espaço tempo, personalidades que marcaram as histórias da família. É o caso dos nomes Bárbara, Leonel, Joaquim, José, Gualter e Tristão. É imprescindível que tal fenômeno pode guardar pistas para busca de antepassados e esta estratégia não pode ser ignorada.

No caso do núcleo de João Pereira de Alencar, o pai Gualter fomentou muitas estas dúvidas, tendo em vista que na homenagem feita em 1873, o futuro barão do Exu, era apenas um fazendeiro e um político bem-sucedido eleito por várias vezes para a Assembleia Legislativa da Província de Pernambuco. O barão não deixou descendentes e é claro que a homenagem com o exato nome do nobre era só uma consciência refletiva dentro da distribuição genealógica dos “Pereira de Alencar”.  Voltando três gerações de João, encontramos em árvore familiar as replicações dos nomes de José, Joaquim, Leonel e Barnabé. Enquanto que Joaquim (seu bisavô), pode ser o elo de revelação dos nomes dos antepassados que ligam João ao patriarca Leonel, o nome de Barnabé (seu avô), nos permite especular se Joaquim Damaso de Alencar teria homenageado o escravo fiel de Bárbara de Alencar ao escolher tal nome para seu filho na pia batismal. O escravo Barnabé é citado pela escritora Ariadne Araújo no Livro Barbara de Alencar, num feito heroico para proteção de sua sinhá, pois ele cortou a própria língua para não revelar a localização de Bárbara que fugia das tropas monarquistas que buscavam capturar os líderes do movimento republicano da Confederação do Equador.

Segundo esta mesma fonte, havia uma relação de amizade no perfil senhorial dos Alencares não só por parte de Bárbara, pois relata a autora que no tratamento aos escravos, não haviam castigos e nem recolhimentos dos negros em senzalas. Outra reação nesta mesma direção de um tratamento passivo com os negros escravos, deu-se por parte de Luis Pereira de Alencar Filho e seu irmão, o Barão Gualter (sobrinhos de Bárbara), no caso da proteção jurídica na posse da escrava Hipólita, assunto narrado no livro “As desventuras de Hipólita”. Nesta linha de raciocínio, também se encontrou como padrinho de batismo de Gualter (pai de João), justamente um renomado abolicionista da época, o juiz Dr. Francisco Primeiro de Araújo Citó, e assim, não é um exagero supor que o padrinho tenha participado da escolha do nome de Gualter, homenageando o barão e desta forma,  também o ideal abolicionista. Não foi à toa que a província do Ceará declarou em 25 de março de 1885, a abolição dos escravos, ou seja, três anos antes da Lei Áurea.

Já para o nome João, aparentemente, os motivos para tantas recorrências a este nome poderiam se dá, mais pela popularidade de São João Batista, como santo do devocionário nordestino, que por motivos da replicação das figuras paternas. É certo que a recorrência do nome exatamente João Pereira de Alencar remonte os antigos clãs da família ainda no começo do século XIX, sendo o Family Search uma boa fonte de registros em Crato, Barbalha, Assaré, etc.. Más no caso do altoense João, fica a dúvida sobre o caráter da origem do nome, por causa do vazio que falta ser preenchido no avanço das pesquisas de sua genealogia. No entanto, a devoção a São João Batista é confirmada pelos familiares (filhos e netos) pela existência de um ícone do santo que sempre acompanhava as viagens de João no mesmo baú de madeira onde guardava as suas roupas e documentos. O Relacionado ou não, o caso de devoção ao santo nos faz pensar Barnabé (o avô de João) e se a Igreja de São João do Araripe fez parte dos vínculos familiares na década de 1860. Segundo a escritora Oldam de Alencar, no livro “Igreja de São João Batista do Araripe, Exu-Pernambuco – Sesquicentenário (1868/2018)”, a igreja foi resultado de uma promessa feita ao santo para conter uma epidemia de cólera que vinha ceifando muitas vidas no cariri e ameaçava as povoações junto a Serra do Araripe. Por envolver um membro da família, a história popularizou a devoção do São João na Família Alencar e entre outras famílias da região.  

Por que parte da família migrou para Altos-PI?

Devem ser bastante extraordinários os motivos que levem a migração de uma família inteira já enraizada em determinado lugar e, para os alencares de João, as secas de 1877-79 foram fenômenos mais que convincente para a necessidade de mudanças do chamado Sertão de Ilhamuns.

Ceifando cerca de 500 mil vidas (5% da população do império naquela época), o Ceará foi de longe, a província mais afetada de todas. Uma prova disso, é que ainda hoje, 145 anos depois, no município de Tauá, onde morava a família de João Pereira de Alencar, os governos continuam implementando políticas públicas de combate as secas e a fome. Segundo relatos feitos em 2016 pela esposa de João, a "Dona Antonia Araújo" (In memorian), os fatos vivenciados pelo pai Gualter, tiveram o seguinte resumo: "O pai do João ficou órfão ainda quando ele morava no Ceará. Isso aconteceu por causa das secas de 1877 a 1879. O pai dele, o Gualter foi trazido pelo tio Leonel Pereira de Alencar que o criou em Altos-PI, num local chamado 'Mundo Novo'", disse ela aos 93 anos de vida. 

E foram as secas do Sertão Cearense que foram dando as origens de novas povoações que se formaram como consequência deste martírio. Assim, surgiu Altos em 1800, através do retirante João de Paiva Oliveira, levando-nos a imaginar que a existência intermitente de sucessivos flagelos, somados a abundância do vale altense com seus rios perenes e seus riachos com piscinas naturais, por muitas ocasiões se tornou uma dentre outras opções piauienses de recomeços, para aqueles que sobreviveram as intempéries climáticas. Sabe-se que em 1891, o povoado de Altos contava com apenas 9 casas erguidas com palhas, e em uma destas habitou Leonel Pereira de Alencar com sua esposa Maria Justina da Silva e o sobrinho Gualter Pereira de Alencar. Posteriormente, à cerca de 10 anos à frente e um pouco mais,  a atual capital da manga abrigou também, os filhos do Sr. Gualter e Dona Ana, que foram: Eulália (*1895-+?), Miguel (*1897-+?), Francisca (*1898-+?), João (*1901-+?), João (*1902-+?), Simplício (*1904-+?), Anacleto (?), João Pereira de Alencar (*20/05/1909-+20/11/1990), Joana (?), Augustinho (?), Branca (?) e Ângela (?).

As histórias de família sobre o 'Mundo Novo' em Altos

João Pereira de Alencar

A povoação de Altos dos primeiros anos do século XIX, foi constituída de locais ocupados pelos descendentes do pioneiro João de Paiva, eram eles o Alto-Franco, Alto da Casa Nova e o Alto de João de Paiva, mais tarde denominados de Altos do João de Paiva, ou simplesmente, Altos. Na década de 1930, poré, o lugar traz também o topônico 'Mundo Novo', e eis aí um nome bastante recorrente nas lembranças das histórias da Família Alencar, contadas por Gualter, seu filho João e Antonia Araújo (esposa de João). Um dos locais de Altos que escapou das menções de família, foi o “Olho d´Água”, tal como descreve-se num documento de Antônio, um dos filhos de Vitalina (que era tia de João).

Vale recordar que aquela que pode ser a melhor das lembranças de família em tempos difíceis, seja a solidariedade entre os parentes. Pois, da mesma forma que Leonel e José ampararam os filhos de seu irmão Barnabé, assim também o fez Eulália com irmão mais novo João, e o mesmo fez João com as irmãs Joana e Ângela (a caçula “Anjinha”). Eram os filhos de Barnabé Pereira de Alencar: 

1 Vitalina Pereira de Alencar (*Em Tauá-Ce em 20.06.1861-+?)

Joaquim Pereira de Alencar (*Em Tauá-Ce, em 23.01.1868-+?) 

3 Raimunda Pereira de Alencar (*Em Tauá-Ce, em 28.04.1871-+?)

4 Gualter Pereira de Alencar (*Em Tauá-CE, em 29.01.1873 - + Lago da Pedra-MA, em 1946).

Arvore genealógica de João Pereira de Alencar

Árvore ascendente:



Árvore descendentes:

(E CONTINUA).